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Ficção, documentário, ensaio, animação

Ficção, documentário, ensaio, animação
Por Daniel Toledo

Enquanto os filmes de longa-metragem possuem um circuito comercial estabelecido nos cinemas e as séries se consolidam como um formato emergente na internet e na televisão, o formato de curta-metragem segue constituindo-se como um campo muito importante para a experimentação de linguagem e o surgimento de novos autores e autoras. Entre os trabalhos selecionados pela convocatória Energia da Cultura, figuram obras que afirmam e expandem a potência da ficção, do documentário, do ensaio e da animação.

No campo da ficção, o naturalismo se faz presente em "Fi de quem?", obra que satiriza, a partir de uma conversa entre duas senhoras, aspectos bastante familiares da vida nas pequenas cidades. No curta "Utopia", por outro lado, a fotografia em preto e branco e a naturalidade das atuações contribuem para uma densa crítica social. A solidão é o grande tema de "Entre tantas", curta-depoimento que se aproxima de modo perturbador da linguagem documental. Transitando por diferentes espaços, a ficção "Vidas do Rosário" propõe reflexões sobre as relações entre os jovens, as tradições e a modernização da vida nas cidades.

Dentre os filmes de ficção também há espaço para o absurdo, presente nos curtas "Encontro" e "A retirada para um coração bruto". Tomando como contexto a vida em pequenos centros urbanos, as obras trazem uma abordagem bastante contemporânea para tratar do envelhecimento, do luto e da permanente possibilidade de renovação. O luto também está presente "Natvivo!" e "O mistério do caboclo" enquanto o último dá vida a uma lenda capaz de envolver e intrigar toda uma cidade.

Ambientes domésticos – e suas janelas – servem como paisagem ao documentário "Da janela", que reúne depoimentos e enquadramentos da cidade compartilhados por moradores de diferentes regiões da capital mineira. Em "Casa de vó", por outro lado, nos sentamos à mesa com uma única personagem e acessamos suas histórias sob a perspectiva afetiva de um neto. Partindo de um franco diálogo com a dança, o curta "Em casa" apresenta a rotina de uma bailarina e seu pai, que de modo comovente convivem em meio a ausências e lapsos de memória.

Trabalhando a partir de imagens de arquivo, "O dono do cinema" nos convida às memórias do antigo Cine Betânia, remontando a outros regimes da imagem e à tradição das salas de rua. Na obra "João Batista", somos apresentados a um inusitado personagem da cidade de Conselheiro Lafaiete, dando a ver a complexidade e a multiplicidade que se escondem em cada um de nós. O documentário "O Bastão e o Rosário", por fim, é conduzido – em primeira pessoa – pelo cruzamento entre os caminhos religiosos e artísticos de um bailarino que se torna capitão da Irmandade de Moçambique Nossa Senhora do Rosário.

Narrativas em primeira pessoa também conduzem as obras "Eu não sei costurar, lembra?" e "Minha mãe costurava para travestis", que combinam humor, densidade, performatividade e experimentação ao tratar de memórias ao mesmo tempo pessoais e coletivas. Os curtas "O martelo da rotina" e "Submersa", por outro lado, dividem relatos, experiências e reflexões acerca dos desafios impostos pela maternidade.

Ultrapassando a esfera da intimidade, Anáfora" apresenta uma crônica repleta de ironia em torno de modelos e padrões globalizados de vida, geralmente associados ao sucesso e à felicidade – não por acaso, em preto e branco. Em “Cidade submersa" e “Várzea nossa de cada dia”, somos igualmente convocados a dimensões coletivas da existência, tão diversas quanto a gestão de inundações urbanas e a possibilidade de lazer e convivência nas cidades, estabelecendo, para tanto, diálogos com a reportagem.

No campo da animação, "Agosto dos ventos" e "De déu em déu, dois ao léu" experimentam diferentes técnicas de desenho, pintura e animação para atrair públicos de todas as idades. Enquanto o primeiro celebra a cultura popular, trazendo como personagens centrais um galo, um menino e um pequi, o segundo propõe uma reflexão ambiental a partir da trajetória de um pássaro e um lenhador. Solidão, isolamento e relações de vizinhança, por outro lado, dão o tom às animações "O céu no andar de baixo" e "Temos muito tempo para envelhecer".

MAPA AUDIOVISUAL 2023 (25 vídeos)

Araxá

"Minha mãe costurava para travestis", Lisa Alves

Belo Horizonte

"Entre tantas", Flavio Vacchiano

"Da janela", Luciano Correia

"Casa de vó", Bernardo Silvino

"Em casa", Marilda Cordeiro

"Cidade submersa", Bárbara Lissa

"Várzea nossa de cada dia", Fábio Marcelino

"O dono do cinema", Fábio Carvalho

"O martelo da rotina", Lorena Barros

"O Bastão e o Rosário", Ana Luísa Cosse

"Natvivo!", Matheus Moura

"O céu no andar de baixo", catapreta

Cataguases

"Temos muito tempo para envelhecer", Bruna Schelb Corrêa

Contagem

"Vidas do Rosário", Rafael Aquino e Marcelo Lin

Conselheiro Lafaiete

"João Batista", Rodrigo R. Meireles

Cordisburgo

"A retirada para um coração bruto", Marco Antônio Pereira

Guapé

"De déu em déu, dois ao léu", Guilherme PAM

Januária

"Fi de quem?", Karla Vaniely

Juiz de Fora

"Eu não sei costurar, lembra?", Gabriel Bittencourt

Mar de Espanha
"Utopia", Alisson Dias

Montes Claros

"Agosto dos Ventos", Paulo Antunes

Pouso Alegre
"Encontro", Rafa Brandão

Salinas

"Anáfora", Nayara Oliveira

Tumiritinga

"O mistério do caboclo", Di Patrício

Viçosa

"Submersa", Vanessa Maciel

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