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Prosa, poesia, oralidade, patrimônio e memória

Prosa, poesia, oralidade, patrimônio e memória

Por Daniel Toledo


De que modo a linguagem audiovisual pode contribuir para a circulação da literatura, da oralidade e do patrimônio, fazendo-os ultrapassar suportes mais tradicionais como livros e museus? Que caminhos têm sido apontados para colocar a poesia em diálogo com a imagem, assim como para valorizar e colocar em debate diferentes aspectos do nosso patrimônio, considerando tanto elementos culturais quanto naturais, tanto materiais quanto imateriais?

Usando elementos simples como bolas de gude, velas acesas, folhas secas e pequenos bonecos, o vídeo "Omolú" nos convida a ouvir uma lenda narrada por um preto velho, acerca da saga de um menino que sai de casa e vaga pelo mundo, enfrentando a solidão. Parte integrante de uma série de vídeos curtos, a obra "Em nome do pai" experimenta a potência da poesia lida em voz alta para criticar hipocrisias e preconceitos. Gravados, respectivamente, em espaços públicos de Itabira e Divinópolis, "Versos urbanos: poetas da vida" e "Sete vidas" traz o frescor, a força e a contestação presente na juventude que movimenta rodas de poesia e improvisação em diferentes partes do estado.

Criado a partir de uma residência no Espaço Quilombola Teto Aberto e gravado em uma praça de esportes, o vídeo "Quilombo se manifesta" combina rima e performance coletiva, trazendo retratos vivos e referências literárias que reivindicam outros enquadramentos para o povo preto brasileiro. "Heranças do Barreiro", por sua vez, propõe um diálogo entre danças urbanas, memória e patrimônio cultural, a partir de uma investigação em torno das origens da região do Barreiro, em Belo Horizonte. Unindo cantos tradicionais e depoimentos de antigos moradores, o vídeo "Nascido da Luta!" reconstrói, a partir da oralidade, capítulos importantes da história da comunidade Quilombola de Riacho da Cruz.

"Conhecendo as memórias do engenho" também encontra na oralidade a sua força, tecendo uma narrativa histórica em torno da comunidade do Engenho, de suas lideranças e seus moradores, por meio de performances, depoimentos e relatos que atravessam diferentes gerações. O curta "Cérnes", por outro lado, traz uma investigação sobre patrimônio natural e a Serra do Ibitipoca, debatendo capítulos importantes como o período colonial de exploração mineral, a fundação do Parque de Preservação Natural e a recente ocupação da região por novos moradores e turistas.

A história da Dança dos Caboclinhos, no município de Peçanha, é o tema abordado no curta  "Dança, caboclo, cada qual em seu lugar", dando voz aos mestres Senhor Tunico e Senhor Chico, que há mais de 70 anos se dedicam à preparar os jovens da comunidade. É também a partir de depoimentos de mestras do congado, assim como de suas práticas, cantos e espaços de encontro, que o vídeo "África em São João Del Rei" investiga a importância dessa tradição nas memórias e no cotidiano das personagens e da comunidade onde vivem, buscando desfazer preconceitos enfrentados até hoje. Em "Matriarcas negras de Ituiutaba", além da congadeira Dona Laci, também os ofícios de benzedeira e porta-bandeira são apresentados junto às trajetórias de outras mestras da cidade, Dona Oneida e Dona Mariquita.

Ainda no campo das práticas e festas tradicionais, o vídeo "Reinado de Chico Rei" oferece um passeio por distintas paisagens da emblemática Ouro Preto, destacando as manifestações congadeiras da cidade em sua relação com a história e o cotidiano dos moradores. Em "Os senhores me dão licença", temos um registro do último encontro de um terno de Folia de Reis, reunindo em uma longa celebração numerosos foliões da zona rural de Paracatu. O ofício de sineiro também é retratado na obra "Voz dos sinos", em que diferentes profissionais e especialistas refletem sobre os simbolismos das badaladas que ecoam a partir do alto das igrejas de São João Del Rei. "Benção", por fim, traz diferentes perspectivas sobre o ofício do benzedor, incluindo depoimentos do Senhor Mário Brás da Luz, da Comunidade Quilombola dos Arturos, em Contagem, falecido em 2021.

MAPA LITERATURA E PATRIMÔNIO CULTURAL

Belo Horizonte

"Quilombo se manifesta", Eduardo DW

"Heranças do Barreiro", Jesca

"Dança, caboclo, cada qual em seu lugar", Marina Fares Ferreira

Contagem

"Benção", Felipe Pedrosa

Divinópolis

"Sete vidas", dv

Itabira

"Versos Urbanos: poetas da vida", Juca

"Conhecendo as memórias do engenho", Igor Venal

Ituiutaba

"Matriarcas negras de Ituiutaba", Arth Silva

Januária

"Nascido da Luta!", Miriã Sarah Brasil

Juiz de Fora

"Omolú", Joathan Pires

Lima Duarte

"Cernes", Céline Billard

Ouro Preto
"Reinado de Chico Rei", Lindoberg Campos

Patos de Minas

"Os senhores me dão licença", Diogo Leite

Santana do Paraíso

"Em nome do pai", Xúnior Matraga

São João Del Rei

"África em São João Del Rei", Mercedes Machado
"Voz dos sinos", Thiago Morandi

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