Por Daniel Toledo
"De que maneiras a linguagem audiovisual, colocada em diálogo com diferentes contextos e práticas artísticas, pode nos aproximar da produção cultural realizada no amplo território de Minas Gerais? Que caminhos têm sido traçados por criadores formados em variados campos das artes, da cultura, da pesquisa e da educação para se apropriar e até mesmo reinventar a linguagem audiovisual? Qual a potência de uma plataforma digital dedicada a reunir, preservar, divulgar e colocar em diálogo essa diversificada produção?"
A partir dessas e de outras provocações, a plataforma Energia da Cultura lançou em setembro de 2022 sua primeira convocatória, que resultou em um apanhado de 60 vídeos disponibilizados gratuitamente dentro da própria plataforma. Em junho de 2023, lançamos uma nova convocatória aberta a artistas, coletivos e agentes culturais do estado, convidando-os, mais uma vez, a inscreverem trabalhos audiovisuais com até 15 minutos de duração. A partir dessa convocatória, tivemos a responsabilidade – e o desafio – de selecionar mais 100 obras que passariam a integrar o acervo da plataforma.
Superando em muito a experiência anterior, a segunda convocatória nos trouxe 1088 propostas vindas de 146 municípios mineiros – abrangendo as 12 macrorregiões do estado. Além da capital, Belo Horizonte, também Contagem, Divinópolis, Juiz de Fora, Santa Luzia, São João Del-Rei, Sete Lagoas e Uberlândia foram localidades que se destacaram em número de obras enviadas.
Entre os selecionados, por outro lado, figuram ainda artistas, coletivos e agentes culturais de Andradas, Araxá, Betim, Cataguases, Conselheiro Lafaiete, Cordisburgo, Diamantina, Extrema, Guapé, Itabira, Itaúna, Ituiutaba, Januária, Lambari, Leopoldina, Lima Duarte, Mar de Espanha, Montes Claros, Ouro Preto, Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Prudente de Morais, Sabará, Salinas, Santana do Paraíso, Tiradentes, Tumiritinga e Viçosa.
Cultura em movimento
Artes cênicas, artes visuais, audiovisual, literatura, música e patrimônio seguem como categorias propostas para acolher os trabalhos inscritos, sempre reconhecendo o hibridismo que caracteriza a produção cultural atual e apostando na diversidade de contextos, linguagens e propostas como um importante critério a ser considerado durante o processo de seleção.
Buscando expandir nosso entendimento sobre as ideias de acervo, de arte e de cultura, convidamos à curadoria Lorena Anastácio, artista, professora e pesquisadora do campo do patrimônio cultural, com ampla experiência junto a populações rurais, indígenas e quilombolas. Como resposta ao grande número de projetos inscritos no campo da música, convocamos o MC Matéria Prima, trazendo consigo duas décadas de muito trabalho traduzido em palavras, ritmos e imagens da cidade.
Curtas-metragens documentais e de ficção, videoclipes musicais, videopoemas, ensaios audiovisuais, videodanças, obras de videoarte, espetáculos filmados e registros de performances urbanas são apenas alguns dos formatos presentes entre os trabalhos selecionados, formando um conjunto heterogêneo que inclui ainda uma videorreportagem sobre o futebol de várzea nas periferias de Belo Horizonte e uma investigação sobre a Dança dos Caboclinhos, patrimônio imaterial da cidade de Peçanha, no vale do rio Doce. Ainda há espaço para obras voltadas a crianças e famílias, incluindo documentários, curtas de ficção, apresentações circenses, vídeos de animação e até mesmo a performance de um colchão-palhaço que vaga por um lote abandonado.
Também nesta edição a seleção contempla obras realizadas com muitos e com poucos recursos, filmadas tanto em estúdios, centros comunitários e instituições culturais quanto em ambientes domésticos, praças, ruas e os mais diversos espaços naturais. A partir dessa seleção, reiteramos nosso compromisso com uma visão ampliada sobre as noções de arte e de cultura e esperamos contribuir para que também as políticas ligadas ao fomento cultural reconheçam essa pluralidade de manifestações, aperfeiçoando-se a partir dos múltiplos caminhos apontados pela produção do estado.
Fertilizar o campo
Concluída em meio a um clima de retomada de ações e projetos, a seleção representa uma celebração da cultura como atividade pública e coletiva, de suma importância para a vida social no campo e na cidade, no centro e na periferia, dentro e fora das instituições organizam a cultura, atribuindo visibilidade a um rico repertório de experiências, práticas e imaginários simbólicos.
À plataforma Energia da Cultura, além de celebrar a criação, a fruição e a reflexão a partir da cultura, interessa também reduzir ausências e reconhecer emergências, colocando lado a lado, diante dos olhos e dos ouvidos do público, os múltiplos agentes e práticas que compõem a realidade cultural do território de Minas Gerais.
No que se refere às próximas edições da convocatória, esperamos continuar ampliando o nosso alcance, seja no que se refere às origens geográficas de obras, artistas e agentes culturais envolvidos – e também às próprias práticas culturais e ideias artísticas que essas mesmas obras buscam traduzir e visibilizar, com especial atenção aos diálogos estabelecidos entre a cultura, a educação, a cidadania e as temáticas ambientais.
E seguir adiante, sempre ampliando a concepção de cultura, aqui entendida como um campo fértil e plural do qual todos, todas e todes fazemos parte.