Um corpo imigrante, materno e descendente indígena perambula entre travessias estrangeiras e genuínas, traçando caminhos de ida e procura do mais subjetivo nela. Veste-se com as roupas do que seria o mais próximo do ideal da mãe latinoamericana (com sequelas coloniais), habitando o híbrido entre a mãe submissa e guerreira ou virgem e mártir. Carrega consigo seus “Wawawasi” (“casa de criança”, em quéchua), e cada Wawawasi expõe, por meio da pintura, o que nela que foi adormecido desde que se tornou mãe. A passos mansos, percorre caminhos longos por lugares que entram em atrito quando ela, a Santa Madre de Wawa Wasi, passa vestida de mãe-virgem.
A paisagem sonora que a acompanha segue a semelhança simbólica da movimentação e pulsação das migrações que perpassam as fronteiras. Burla os limites e a natureza de cada som utilizado, por meio do desmanche e da composição lúdica de sons gravados no cotidiano: a panela de pressão, as risadas do filho, o vibrador ligado, entre outros, resultando em uma cumbia ora animada e dançante, ora repetitiva e aborrecível – e contrastando, de maneira jocosa, quando a Santa Madre de Wawawasi se senta para tomar uma cerveja em um bar do centro da cidade. Assim como a cumbia, que configura resistência gerida a partir da memória e do legado musical e cultural de diversas culturas da América Latina, a Santa Madre de Wawa Wasi encontra o seu altar, onde rende um culto às travessias percorridas e ao seu íntimo mais profundo, para além do papel materno como estratégia de contraposição às feridas coloniais.
Minibio
Yanaki Herrera é graduada em Artes Visuais pela UFMG. Nascida em Cusco (Peru), atualmente vive em Belo Horizonte. Sua pesquisa artística é voltada à maternagem e as lutas coletivas e subjetivas das mães. A partir da pintura, cria narrativas que conversam entre a ancestralidade e o presente como um lugar de transformação. Compõem a sua imagética elementos que nascem a partir das expressões corporais e culturais da América Latina.
Recebeu a premiação Memorial Minas Vale 2021. Realizou as exposições individuais "Warmiwasi: Lutas coletivas e subjetivas", na Galeria BDMG Cultural, "Tal como sementes" e na Galeria A Gentil Carioca (SP). Integrou as exposições coletivas "Pequenas cosmogonias: Como brotar mundos" no Museu Bispo do Rosário (RJ), "O corpo invisível da memória", no Museu da Inconfidência, "MAA", na Mitre Galeria e "Abre Alas 18", na A Gentil Carioca (SP e RJ). Participou do LAB Cultural BDMG 2021 e de residências artísticas no Instituto de Arte Contemporâneo de Ouro Preto, na Oficina Francisco Brennand (PE) e no Chão SLZ (MA).
Conheça mais: @yanaki_herrera